Tenho o privilégio de viver na aldeia, num
sítio onde acordo com o cantar dos pássaros. Quando acordo e me levanto,
saio ao pátio da minha casa e vejo árvores grandes e altas, sinto a
brisa que me beija o espírito e me sussurra que tudo está certo como é.
Tenho o privilégio de viver num sítio que de tão calmo que é, posso
ouvir um galo que canta às quatro da manhã, às quatro da tarde, quando lhe
apetece. Para ele não há regras, para
ele não há ordem. Canta, canta, canta, sempre. Mas parece-me estar um
pouco velho. Sempre que canta, consigo sentir os anos na sua voz rouca e
áspera. Ele que canta sem a noção do tempo, da fragilidade que a
consciência humana trás consigo. Sem se aperceber da chuva que pode vir
amanhã, ou talvez não. Talvez mais consciente que nós, humanos racionais
que pensam que sabem. E assim a chuva continuará a cantar nos meus
dias, banhando-me com as estrelas que me fazem seguir nesta louca
aventura que é viver. Viver aqui e agora, nos sonhos ou sem eles.
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