sexta-feira, 26 de abril de 2013








25 de Abril a Revolução dos Cravos,
o dia em que os homens da morte taparam as suas armas
com a flor da Paz.

25 de Abril de 1974
o dia em que se cantaram canções de Liberdade
para os homens, para as mulheres e para as crianças.

25 de Abril de 1974
o dia em que a inocência se quebrou
e os portugueses começaram a acordar.

25 de Abril a Revolução dos homens sem poder,
o dia em que se dançou com o brilho nos olhos
com a esperança que um dia houvesse comida
na mesa, no frigorífico, ou fosse onde fosse.

25 de Abril de 1974
o dia em que alguns sonharam
que este País de seu nome Portugal
pudesse vir a cumprir com o seu destino.

25 de Abril de 1974
o momento em que tantos sentiram o coração palpitar
com a esperança que as canções dos rebeldes do sistema
se pudessem materializar como verdades que eram,
quanto mais não fosse, no Coração de cada um.

25 de Abril de 2013
o dia em que nos apercebemos
que passados 39 anos da Revolução da Paz
tinhamos sido agarrados pelas garras ferozes
daqueles que vivem sem Coração e sem Alma.

25 de Abril de 2013
o dia em que soubemos
ter sido envenenados pelos mesmos de sempre,
aqueles de língua bifurcada e pele molhada
que rastejam sem vergonha.

25 de Abril de 2013
o dia em que nos apercebemos
que passados 39 anos da Revolução das Flores
tudo estava a ser comido
pelas mesmas cobras de sempre.

25 de Abril de 2013
o dia em que decidimos cantar com a Lua Cheia
pois podem tirar tudo ao Homem e à Mulher
mas nunca lhe poderão tirar o Luar
nem as estrelas.

25 de Abril de 2013
o dia em que decidimos dançar
porque muitos de nós sabem agora
que sem a esperança no "futuro"
a única coisa que que nos resta
é o Amor e a Arte
de sermos quem somos, sem esperança,
porque a esperança mata o momento Presente
que é o maior "presente" que podemos ter,
o Aqui e Agora em plena celebração,
silenciosa ou não.

sábado, 20 de abril de 2013



Quando o conheci, ele era maior que o mundo, 
a sua alma abarcava tudo o que existia e aquilo que não. 
Ele falava como se soubesse a verdade, 
movia-se como o vento e o fogo, 
caminhava como um rio que desce da montanha até ao mar. 
Quando o conheci, ele não era ninguém. 
Hoje também não. 
Amanhã não sei.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

SunSimiao o Rei da Medicina



Sun Simiao (581-682 d.C.) foi um médico famoso de medicina chinesa que viveu durante as dinastias Sui e Tang.

Ele foi chamado “Rei da Medicina” por médicos tradicionais chineses e muitas vezes descrito, no folclore ou em histórias populares, como na lenda do taoísta, que montava um tigre e que alcançou a imortalidade após dedicar a vida a salvar pessoas e a ensiná-las “o caminho do cultivo interior”.

Mas sabemos com certeza que ele nos legou duas das mais valiosas enciclopédias na história da medicina tradicional chinesa. Os dois livros são “Prescrições essenciais para emergências que valem mil liang [uma unidade chinesa de peso] de ouro” (Qian Jin Yao Fang) e “Suplemento às prescrições essenciais para emergências que valem mil liang de ouro” (Qian Jin Yi Fang), ambos contêm informações úteis da literatura médica ancestral, além da própria experiência clínica de Sun Simiao.

A partir desses livros sabemos que Sun Simiao dedicou grandes esforços aos estudos farmacológicos, incluindo a colecta e o processamento de ervas medicinais, a identificação de suas características, fórmulas e aplicação clínica.

O livro “Qian Jin Yao Fang” consiste em mais de 5.000 prescrições e abrange teorias médicas e experiência clínica, incluindo medicina interna, cirurgia, ginecologia e pediatria. Ele cobre a desintoxicação, a ajuda de emergência, a preservação da saúde, a alimentação terapêutica, acupuntura e massagem e é uma colectânea magnífica do desenvolvimento da medicina chinesa antes da Dinastia Tang.

A obra “Qian Jin Yi Fang” contém cerca de 3.000 prescrições e cobre ginecologia, pediatria, acidente vascular cerebral, acupuntura e muitos outros aspectos da medicina. É um suplemento detalhado, essencial e útil ao “Qian Jin Yao Fang”. Ela descreve mais de 800 ervas e entre elas mais de 200 vêm com informações detalhadas sobre como colectá-las e processá-las.

De acordo com Sun Simiao, o que causa desastres naturais são distúrbios do yin e yang. Da mesma forma, doenças humanas também são devido a distúrbios do yin e yang no corpo humano e podem ser normalizados com tratamentos.

Sun Simiao tinha em alta estima o cultivo de ética médica. Em seu livro, ele salientou: “Quando um grande médico trata um paciente, ele deve se concentrar, acalmar-se e estar livre de desejos e buscas. Ele precisa ter um coração compassivo e estar disposto a ajudar aqueles que sofrem.”

O espírito humanitário de Sun Simiao é digno de ser imitado e promovido por entre as pessoas de todos os tempos.

Poesia de uma taoísta Yu Xuanji



I

Aos imortais perdem-se as coisas deste mundo
Outonos passam como apenas um momento
Fica às cobertas o calor do amor recente
Do papagaio à jaula o eco ainda circunda

O orvalho cobre as flores, rostos que se velam
O vento verga em sobrancelhas os chorões
Nuvens dissipam-se entre cores, tornam à sombra
Pan Yue lamenta e seu cabelo acolhe a neve*

II

Da cássia, um galho ergue-se à lua, encontra a névoa
Vermelho à chuva: ao rio, mil pessegueiros brotam
À frente, ofertam vinho; aceita, enche teu copo:
são alegria e dor unidas pelos século

terça-feira, 9 de abril de 2013

O domar da harpa





O Domar da Harpa

Havia em tempos idos, na Ravina de Lungmen, uma árvore kiri (Pandownia), verdadeira rainha da floresta. Erguia a cabeça para conversar com as estrelas, as suas raízes desciam fundas no solo, emaranhando-se nas do dragão prateado que dormia por baixo. E aconteceu que um mago poderoso fez desta árvore uma harpa maravilhosa, cujo espírito obstinado havia de ser domado apenas pelo maior dos músicos. Durante muito tempo o instrumento foi estimado pelo imperador da China, mas foram vãos todos os esforços dos que à vez tentaram extrair melodias daquelas cordas. Em resposta às suas melhores tentativas soltavam-se da harpa apenas notas roufenhas de desprezo, em desarmonia com as canções que eles gostariam de cantar.

A harpa recusava-se a reconhecer um mestre.
Por fim, chegou Peiwoh, o príncipe dos harpistas. Com mão meiga acariciou a harpa, como quem tentasse acalmar um cavalo obstinado, e tocou suavemente as suas cordas. Cantou a natureza e as estações, montanhas altaneiras e águas correntes, e todas as memórias da árvore despertaram! O doce sopro da primavera tornou a brincar entre os seus ramos. A s jovens cataratas dançando pela ravina, riram-se para as flores em botão. Seguidamente, escutaram-se as vozes sonhadoras do verão, com a sua miríade de insectos, o gentil tamborilar da chuva, o grito do cuco.

Escutai! Ruge um tigre – o vale volta a responder. É Outono; na noite deserta, afiada como uma espada, brilha a lua sobre a erva molhada de geada. Agora reina o inverno, e pelo ar cheio de neve redemoinham flocos de cisnes, e pedras de granizo ruidosas fustigam os troncos numa delícia feroz.
Então Peiwoh mudou de tom e cantou o amor. A floresta balançou como um mancebo ardente embrenhado em pensamentos. Lá no alto, qual donzela altiva, correu uma nuvem reluzente e linda; passageiras apenas, longas sombras rastejaram pelo solo, negras como o desespero.
De novo o tom mudou; Peiwoh cantou a guerra, o embater do aço e os corcéis em tropel. E na harpa cresceu a tempestade de Lungmen, o dragão cavalgando o corisco, a avalanche tempestuosa embatendo pelos montes.
Em êxtase, o monarca celeste questionou Peiwoh pelo segredo desta vitória.
“Senhor” replicou ele, “os outros falharam por que apenas se cantaram a si próprios. Eu deixei que a harpa escolhesse o seu tema, e não soube verdadeiramente se a harpa era Peiwoh, ou se Peiwoh foi a harpa”.

Okakura, Kakuzo – O Livro do chá

domingo, 7 de abril de 2013


Bem pessoal cá estamos nós naquela fase em que um livro está quase a terminar, mas ainda não terminou! A reescrita tem sido um processo interessante porque me tem feito amadurecer bastante aqueles capítulos que tinha escrito há meses atrás. Por fim, este projecto parece estar a ganhar forma e nas próximas semanas terei a minha primeira versão realmente final, se é que posso usar esse termo nesta fase. Depois irei partilhá-lo com alguns amigos que se dispuseram a fazer uma análise crítica que me ajudará a reescrever novamente tudo o que for necessário. 

Até 31 de Maio terei que ter esta obra pronta para participar no Prémio Leya 2013 a ver se publico! 

De volta á escrita!







Tenho o privilégio de viver na aldeia, num sítio onde acordo com o cantar dos pássaros. Quando acordo e me levanto, saio ao pátio da minha casa e vejo árvores grandes e altas, sinto a brisa que me beija o espírito e me sussurra que tudo está certo como é. Tenho o privilégio de viver num sítio que de tão calmo que é, posso ouvir um galo que canta às quatro da manhã, às quatro da tarde, quando lhe apetece. Para ele não há regras, para ele não há ordem. Canta, canta, canta, sempre. Mas parece-me estar um pouco velho. Sempre que canta, consigo sentir os anos na sua voz rouca e áspera. Ele que canta sem a noção do tempo, da fragilidade que a consciência humana trás consigo. Sem se aperceber da chuva que pode vir amanhã, ou talvez não. Talvez mais consciente que nós, humanos racionais que pensam que sabem. E assim a chuva continuará a cantar nos meus dias, banhando-me com as estrelas que me fazem seguir nesta louca aventura que é viver. Viver aqui e agora, nos sonhos ou sem eles.